“Quase nunca se
contradizia, mas continha multidões, as mesmas que movia. Parte do seu fascínio,
do seu lado de ser enigmático, de cidadão invulgarmente culto e de político
coerente vinha-lhe daqui, e também do seu último reduto da liberdade: a de
manter uma cortina de opacidade a cobrir a vida privada” noticia a ‘Visão’
sobre o centenário do nascimento (10 de Novembro de 1913).
A ideia (errada) que
existe sobre Álvaro Cunhal, de: ser um homem frio não corresponde à verdade.
“Quem lidada com ele de
perto sempre se comove ao lembrar a preocupação carinhosa com os outros, que
tanto contrastava com a imagem de homem duro: desdobrava-se em atenções, indagava
da saúde, do bem-estar, da família, dos filhos dos camaradas”.
Segundo a mesma revista,
até Mário Soares, tinha por ele “fascínio e admiração genuína” porque Álvaro
Cunhal sempre foi um “homem excepcional” para além dos conflitos que os dois tiveram.
Mesmo tendo abandonado
de livre vontade o ambiente familiar em que vivia, Cunhal tinha a sua “obstinação
pela luta antifascista. Desde muito jovem, a abnegada ligação ao partido,
trouxeram-lhe, para além da perseguição politica, da clandestinidade e do exílio,
e das inúmeras separações daqueles que mais amava, algumas desavenças familiares
– vindo da alta burguesia, Álvaro Cunhal (filiado no PCO aos 17 anos) não era
filho da classe operária (o pai era o reputado advogado republicano e laico
Avelino Cunhal, também pintor e escritor, a mãe católica ferverosa), mas
contavam amigos próximos, gostava de andar pela casa de fato macaco para
desespero materno.
Mercedes Cunhal perdeu
três filhos: um para a politica, dois para a tuberculoses. Só 14 anos mais
tarde nasceu a irmã mais nova, Eugénia, primeira tradutora de Tchekov, em
Portugal.
A convivência com a mãe
tornou-se fragmentada, ao ritmo dos desaparecimentos políticos, clandestinidades,
prisões, isolamentos e exílio. Morreria antes do 25 de Abril, sem jamais o
rever. Cunhal saiu de casa com 20 anos, trocou o conforto da alta burguesia,
das criadas fardadas, da comida na mesa, pelo regime duro e despojado, imposto
aos militantes comunistas, durante a perseguição fascista. O homem gostava de
Rembrandt, de Rodin, renunciou até à sua arte – diz-se que poderia ter ido muito
mais longe, enquanto pintor e escritor – por acreditar num dever patriótico e
sentido revolucionário até ao fim…”
Ainda hoje Álvaro
Cunhal continua a ser um homem incompreendido por alguns mas admirado por
muitos.
Por: António Centeio
1 comentário:
No seu tempo era impensável uma coligação com o PSD numa autarquia qualquer.
> «A restauração do capitalismo monopolista é a história sinistra de uma cruzada
> (...)», (...) marcada por um «cortejo de inconstitucionalidades, ilegalidades,
> violências, fraudes, especulações, benesses, negociatas, tráfico de influências,
> corrupção e escândalos».
~Ãlvaro Cunhal
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