Que lugar ocupa Portugal nos rankings de
desenvolvimento do mundo? A Globalstat (http://www.globalstat.eu/),
a base de dados sobre o desenvolvimento num mundo globalizado que a Fundação
Francisco Manuel dos Santos e o Instituto Universitário Europeu lançaram
recentemente, é uma poderosa ferramenta para responder a esta questão. Com o
intuito de medir o desenvolvimento usando indicadores para além do Produto
Interno Bruto (PIB) por cabeça, uma medida algo redutora, a Globalstat reúne um
vasto conjunto de índices, que permitem comparar as cerca de duas centenas de
países do mundo. A maior parte desses índices dizem respeito a factores
particulares de desenvolvimento, como por exemplo nas áreas da economia, da
educação e da saúde, mas outros combinam vários factores desse tipo
fornecendo-nos uma imagem bastante abrangente. É o caso do Índice de
Prosperidade, construído pelo Instituto Legatum, com sede em Londres, ou do
mais conhecido Índice do Desenvolvimento Humano (IDH), usado pelo Programa para
o Desenvolvimento das Nações Unidas. A reunião num só sítio de vários índices,
simples ou compostos, permite facilmente a qualquer pessoa em qualquer sítio do
mundo extrair as suas próprias conclusões a respeito da riqueza ou da pobreza
das nações.
Utilizando o Globalstat consultei o PIB
por cabeça, o Legatum e o IDH para conhecer a posição do nosso país no globo.
Considerando o PIB, estamos em 37.º lugar, atrás de 15 outros países da União
Europeia a 28 países (a Grécia está à nossa frente). Mas, usando o Legatum, que
combina índices de economia, empreendedorismo, governança, educação,
saúde, segurança, liberdade pessoal e capital social (este inclui a caridade, o
voluntariado, a ajuda a estrangeiros, etc.) para 142 países, a nossa situação melhora
bastante: ocupamos um honroso 27.º lugar, atrás de apenas 13 países da União
Europeia (bem à frente da Grécia). Portugal é um país muito seguro: Somos,
segundo o Legatum, o 13.º país do mundo do ponto de vista da segurança. Só não
estamos mais alto no cômputo geral porque a economia e a educação não vão tão
bem como o resto: na economia estamos no 53.º lugar mundial, atendendo ao
desemprego, à insatisfação geral e à falta de confiança nos bancos, e na
educação estamos num também modesto 47.º lugar, atendendo ao défice de
escolaridade da população activa. Por último, usando o IDH, que combina o PIB
com um índice de escolaridade e com a esperança de vida ao nascer para as
populações de 187 países, o nosso lugar passa a ser o 41.º, atrás de 21 países
da União Europeia (mais uma vez, atrás da Grécia). De novo, o nosso nível
de educação não ajuda. A conclusão é óbvia: se melhorarmos a educação,
subiremos nos rankings de desenvolvimento. Pode não dar
resultados imediatos, mas é um esforço que vale decerto a pena. De facto, o
lugar dado à educação nos quadros comparativos do desenvolvimento significa o
reconhecimento que ela representa um extraordinário meio de obtenção de bem
estar.
Tudo é relativo. O nosso lugar, podendo
ser melhor, não é nada mau. Não estando no topo como a Noruega ou a Suíça, que
ocupam posições cimeiras em qualquer um dos rankings considerados
(tal como, na União Europeia, a Dinamarca e a Alemanha), Portugal está muito
melhor do que a maior parte dos países do mundo. Por exemplo, na cauda das listas
do PIB, do Legatum e do IDH, aparecem alguns países de língua portuguesa. Por
exemplo, no PIB, Guiné-Bissau e Moçambique estão nos modestíssimos lugares 169
e 170. No Legatum Moçambique e Angola estão nos lugares 120 e 132. No IDH, a
Guiné-Bissau e Moçambique aparecem de novo colados um ao outro em posições da
retaguarda: nos lugares 177 e 178. Mais uma vez a má situação nos dois últimos
índices significa não apenas pobreza material mas também défice de educação. A
declaração feita pela União Europeia de 2015 como Ano Europeu do
Desenvolvimento deve reforçar a consciência dos países mais ricos – é o caso
dos países europeus, mesmo os menos desenvolvidos como o nosso – a respeito do
seu papel na ajuda aos mais pobres. Num mundo onde persistem desigualdades
gritantes, que este ano sirva para contrariar as assimetrias maiores.
Por: Carlos Fiolhais
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