domingo, 4 de novembro de 2012

SAÚDE: Síndrome depressivo

Por: Antonieta Dias (*)
É um distúrbio psiquiátrico que afecta as pessoas em qualquer idade, que origina perturbações cognitivas, designadamente uma diminuição da capacidade de concentração, do raciocínio, da decisão, da vontade e da motivação, levando necessariamente a uma perda do rendimento escolar e laboral.
No âmbito afectivo origina alterações nomeadamente perda do prazer para as actividades de vida diária, diminuição do interesse e prazer sexual, com intolerabilidade social, humor triste, apatia levando a um isolamento social progressivo e a um absentismo no trabalho elevado.
Relativamente às alterações psicomotoras, os doentes deprimidos, apresentam uma lentificação das suas actividades, com sensação de fraqueza, fadiga, podendo surgir emagrecimento por anorexia (perda do apetite).
É uma patologia de risco elevado, devido à ideação suicida, que necessita de tratamento médico, e por vezes internamento hospital compulsivo pois pode terminar no suicídio consumado.
Estima-se que cerca de 15 a 20% da população mundial já vivenciou pelo menos um episódio de depressão.
A incidência é mais frequente na faixa etária compreendida entre os 24 e os 44 anos de idade.
Em Portugal na última década, mais recentemente nestes dois últimos anos esta doença tem aumentado assustadoramente, sendo uma preocupação no âmbito da saúde pública e da sociedade em geral.
Estima-se que a depressão afecta mais de 350 milhões de pessoas, leva à perda de 850 mil vidas ano, e em Portugal gera cerca de 1200 mortes /ano.
Acresce ainda, referir que a incidência de depressões graves a nível mundial é de cerca de 4%, sendo em Portugal quase o dobro (7%).
O risco de desenvolver depressão é maior nas mulheres (20%), que nos homens (10%), sendo a prevalência ano para a depressão grave de 0.4% a 3%, em crianças e de 3.3 a 12.4% em adolescentes.
No ano de 2020 a depressão será a doença com maior prevalência na população em geral a nível mundial.
Dados bem recentes revelados à Lusa pelo psiquiatra Álvaro de Carvalho, que lidera o plano de prevenção de depressões e suicídios integrado no Plano Nacional de Saúde Mental, o estudo preliminar realizado, demonstrou que Portugal é dos países com maior número de depressões.
O mesmo autor revela que a prevalência de doença mental em Portugal é de 23 por cento, enquanto na vizinha Espanha e na França ronda os 8 e 9,2 por cento.
O mesmo autor refere que «a evidência científica aponta para uma tendência que não pode deixar de chamar a atenção da sociedade em geral e dos políticos em particular: dados internacionais mostram existir uma correlação directa entre o aumento da prevalência de doenças mentais e o grau de desigualdades em termos sociais».
Com base nos estudos da Organização Mundial de Saúde (OMS), actualmente, mais de 550 milhões de pessoas, estão afectadas por perturbações mentais, a crise económica na Europa, com as recessões económicas daí decorrentes, prevendo a mesma organização que nos próximos vinte anos, a depressão afectará mais pessoas, do que qualquer outra doença(neoplasia ou doenças cardíacas), passará em 2030 a ser a doença mais comum do mundo, que desencadeará custos económicos e sociais para os governos, devido ao preço elevado e demorado dos tratamentos e pela diminuição da produtividade, passando a ser a segunda causa de morte a nível mundial.
Esta situação social terá um impacto fortemente negativo a nível da população portuguesa, devido ao aumento do desemprego, à dificuldade em colmatar às carências da sustentabilidade económica reflectidas na manutenção das necessidades básicas.
Não é por acaso que os países pobres têm um índice mais elevado de síndromes depressivos.
A pobreza instalada em Portugal associada à precaridade nas soluções governamentais apresentadas e à imprevisibilidade nefasta de medidas restritivas que surgem quase diariamente, que se têm vindo a revelar nestes últimos anos desencadeará um modelo populacional predominante de evidências comportamentais tipificadas por fenómenos caracterizados por um retraimento social, desânimo permanente, apatia, perda da capacidade laboral, baixa auto-estima, sentimentos de inutilidade, de tristeza e de perda de vontade de viver, podendo mesmo conduzir a um aumento de suicídios, por incapacidade e falência de gestão dos recursos disponíveis.
O sentido inovador, de empreendedorismo e de aumento de produtividade, necessários para a recuperação económica de Portugal, será uma quimera a muito curto prazo, se não conseguirmos que as pessoas tenham rusticidade psicológica suficientemente forte para responder às adversidades que se avizinham.
Em suma, apesar da evidência empírica, resta-me apenas aconselhar, que tendo em conta que não podemos interferir nos factores agressores externos (medidas políticas, socialmente desadequadas ao nosso bem estar, físico, social e psicológico); nem contrariar o aparecimento de doenças endócrinas que também podem conduzir ao aparecimento de síndromes depressivos, como sejam os transtornos metabólicos: síndrome de Sheehan (problema na hipófise), hipotireoidismo(problemas no funcionamento da tireóide), doença de Addison (problema nas glândulas suprarrenais), ou de outros quadros clínicos como anemia ou síndrome de fadiga crónica, resta-nos apenas, aumentar os nossos mecanismos de defesa com base nas nossas competências psicológicas, e na importância dos factores psicológicos, associados ao treino demonstrado em investigações efectuadas em determinados contextos sociais em que a compreensão e adaptação humana poderão funcionar como um laboratório naturalístico de defesa contra a agressividade.
Há que investir nos recursos intrínsecos que melhorem a performance e que constituam uma actividade agradável e desafiadora que nos preserve física e psicologicamente sãos, para que esta situação de ameaça e mesmo aversiva, não nos abale, ao ponto de nos destruir.
Assim, é necessário para a obtenção do êxito e do sucesso da nossa sobrevivência pessoal, associar a nossa vida a uma saúde mental mais positiva e a um menor desajustamento psicológico.
Em segundo lugar, alguns factores ou competências psicológicas parecem assumir uma importância fundamental na diferenciação entre as pessoas melhores e as menos bem sucedidas, bem como um peso mais ou menos decisivo no rendimento pessoal: o controlo da ansiedade, a concentração, a autoconfiança, a preparação mental e a motivação, são factores a considerar para fortalecer a nossa defesa pessoal.
Com efeito, os homens de sucesso parecem possuir um maior nível de competências de regulação e controlo da ansiedade competitiva e de atenção e concentração; mostram-se mais autoconfiantes nas suas competências e capacidades; estão mais motivados para o desafio e realização profissional e dispendem algum esforço e um maior cuidado com a sua preparação mental, para aumentarem o desempenho profissional.
Paralelamente e ao nível dos trabalhos colectivos, os melhores profissionais parecem também evidenciar maiores níveis de orientação no grupo e no sucesso da equipa.
Finalmente, algumas variáveis parecem moderar e/ou mediar o impacto dos factores e processos psicológicos no rendimento e no êxito pessoal. É o caso, entre outras, da idade, da experiência pessoal, do sexo e das características da reacção pessoal (individual versus colectiva; competências abertas versus competências fechadas; contacto versus não contacto).”
Os estudos já efectuados demonstram que o efeito de tais variáveis moderadoras não pode ser ignorado, não só no estudo das características psicológicas, mas também no impacto dos factores psicológicos na determinação, explicação e predição do rendimento competitivo.
Resta, assim investir para não sermos destruídos nos factores da personalidade na tentativa de identificar e determinar os comportamentos das pessoas, de as comparar entre si e sobretudo de prevenir reacções nefastas que possam estar associadas a determinados traços da personalidade.
Quando usamos o termo personalidade queremos designar as características relativamente estáveis de uma pessoa, que engloba os aspectos cognitivos e afectivos. Dois conceitos terão de ser aqui incluídos, um biológico - o temperamento (emotividade, força interior) outro psicológico - o carácter (aspectos relacionais), que por sua vez são responsáveis pelos nossos estados de humor (tristeza, excitação, euforia).
Todo o nosso comportamento é resultante da nossa personalidade que foi sendo modelada ao longo da vida. Assim cada um de nós apresentará o seu estilo cognitivo e fará o tratamento da informação à sua maneira. Uns serão mais intelectuais, outros mais pragmáticos, uns mais auditivos, outros mais críticos, uns mais pormenorizados e aproximar-se-ão mais dos detalhes, outros mais superficiais.
Todo este relacionamento comportamental resulta da permanente inter-acção que a pessoa tem com o meio ambiente e do seu exercício sensório-motor que permite a consciencialização e conceptualização das acções materiais. Diferentes pessoas elegem diferentes ambientes. Estas diferenças resultam das suas experiências vivenciais que se repercutem nelas e que serão consequência das suas origens familiares, dos seus amigos, de todo o ambiente que para si elegeram, desde a música que ouvem às leituras que fazem.
Criando a sua personalidade, constituída pelas três vertentes – biológica, psicológica e social, que os leva a reagir, controlar e actuar, com regularidade e estabilidade, em todas as situações que surgem, organizando e motivando padrões de resposta específica e determinando a sua conduta.
As pessoas diferem umas das outras criam os seus sistemas de defesa que serão a base das características da personalidade. A variedade é imensa. É preciso ter em conta estas diferenças para melhor compreender os homens e em particular entender os sistemas de formação e de gestão dos recursos humanos utilizados.
A preparação e treino mental é o nosso segredo para resistir às intempéries sociais e políticas que nos tentam destruir e aniquilar.
(*) Doutorada em Medicina

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