Por: Antonieta Dias (*) |
É
um distúrbio psiquiátrico que afecta as pessoas em qualquer idade, que
origina perturbações cognitivas, designadamente uma diminuição da
capacidade de concentração, do raciocínio, da decisão, da vontade e da
motivação, levando necessariamente a uma perda do rendimento escolar e
laboral.
No âmbito afectivo origina
alterações nomeadamente perda do prazer para as actividades de vida
diária, diminuição do interesse e prazer sexual, com intolerabilidade
social, humor triste, apatia levando a um isolamento social progressivo e
a um absentismo no trabalho elevado.
Relativamente
às alterações psicomotoras, os doentes deprimidos, apresentam uma
lentificação das suas actividades, com sensação de fraqueza, fadiga,
podendo surgir emagrecimento por anorexia (perda do apetite).
É
uma patologia de risco elevado, devido à ideação suicida, que necessita
de tratamento médico, e por vezes internamento hospital compulsivo pois
pode terminar no suicídio consumado.
Estima-se que cerca de 15 a 20% da população mundial já vivenciou pelo menos um episódio de depressão.
A incidência é mais frequente na faixa etária compreendida entre os 24 e os 44 anos de idade.
Em
Portugal na última década, mais recentemente nestes dois últimos anos
esta doença tem aumentado assustadoramente, sendo uma preocupação no
âmbito da saúde pública e da sociedade em geral.
Estima-se
que a depressão afecta mais de 350 milhões de pessoas, leva à perda de
850 mil vidas ano, e em Portugal gera cerca de 1200 mortes /ano.
Acresce
ainda, referir que a incidência de depressões graves a nível mundial é
de cerca de 4%, sendo em Portugal quase o dobro (7%).
O
risco de desenvolver depressão é maior nas mulheres (20%), que nos
homens (10%), sendo a prevalência ano para a depressão grave de 0.4% a
3%, em crianças e de 3.3 a 12.4% em adolescentes.
No ano de 2020 a depressão será a doença com maior prevalência na população em geral a nível mundial.
Dados
bem recentes revelados à Lusa pelo psiquiatra Álvaro de Carvalho, que
lidera o plano de prevenção de depressões e suicídios integrado no Plano
Nacional de Saúde Mental, o estudo preliminar realizado, demonstrou que
Portugal é dos países com maior número de depressões.
O
mesmo autor revela que a prevalência de doença mental em Portugal é de
23 por cento, enquanto na vizinha Espanha e na França ronda os 8 e 9,2
por cento.
O mesmo autor refere que
«a evidência científica aponta para uma tendência que não pode deixar de
chamar a atenção da sociedade em geral e dos políticos em particular:
dados internacionais mostram existir uma correlação directa entre o
aumento da prevalência de doenças mentais e o grau de desigualdades em
termos sociais».
Com base nos estudos
da Organização Mundial de Saúde (OMS), actualmente, mais de 550 milhões
de pessoas, estão afectadas por perturbações mentais, a crise económica
na Europa, com as recessões económicas daí decorrentes, prevendo a
mesma organização que nos próximos vinte anos, a depressão afectará mais
pessoas, do que qualquer outra doença(neoplasia ou doenças cardíacas),
passará em 2030 a ser a doença mais comum do mundo, que desencadeará
custos económicos e sociais para os governos, devido ao preço elevado e
demorado dos tratamentos e pela diminuição da produtividade, passando a
ser a segunda causa de morte a nível mundial.
Esta
situação social terá um impacto fortemente negativo a nível da
população portuguesa, devido ao aumento do desemprego, à dificuldade em
colmatar às carências da sustentabilidade económica reflectidas na
manutenção das necessidades básicas.
Não é por acaso que os países pobres têm um índice mais elevado de síndromes depressivos.
A
pobreza instalada em Portugal associada à precaridade nas soluções
governamentais apresentadas e à imprevisibilidade nefasta de medidas
restritivas que surgem quase diariamente, que se têm vindo a revelar
nestes últimos anos desencadeará um modelo populacional predominante de
evidências comportamentais tipificadas por fenómenos caracterizados por
um retraimento social, desânimo permanente, apatia, perda da capacidade
laboral, baixa auto-estima, sentimentos de inutilidade, de tristeza e de
perda de vontade de viver, podendo mesmo conduzir a um aumento de
suicídios, por incapacidade e falência de gestão dos recursos
disponíveis.
O sentido inovador, de
empreendedorismo e de aumento de produtividade, necessários para a
recuperação económica de Portugal, será uma quimera a muito curto prazo,
se não conseguirmos que as pessoas tenham rusticidade psicológica
suficientemente forte para responder às adversidades que se avizinham.
Em
suma, apesar da evidência empírica, resta-me apenas aconselhar, que
tendo em conta que não podemos interferir nos factores agressores
externos (medidas políticas, socialmente desadequadas ao nosso bem
estar, físico, social e psicológico); nem contrariar o aparecimento de
doenças endócrinas que também podem conduzir ao aparecimento de
síndromes depressivos, como sejam os transtornos metabólicos: síndrome
de Sheehan (problema na hipófise), hipotireoidismo(problemas no
funcionamento da tireóide), doença de Addison (problema nas glândulas
suprarrenais), ou de outros quadros clínicos como anemia ou síndrome de
fadiga crónica, resta-nos apenas, aumentar os nossos mecanismos de
defesa com base nas nossas competências psicológicas, e na importância
dos factores psicológicos, associados ao treino demonstrado em
investigações efectuadas em determinados contextos sociais em que a
compreensão e adaptação humana poderão funcionar como um laboratório
naturalístico de defesa contra a agressividade.
Há que investir nos recursos intrínsecos que melhorem a performance
e que constituam uma actividade agradável e desafiadora que nos
preserve física e psicologicamente sãos, para que esta situação de
ameaça e mesmo aversiva, não nos abale, ao ponto de nos destruir.
Assim,
é necessário para a obtenção do êxito e do sucesso da nossa
sobrevivência pessoal, associar a nossa vida a uma saúde mental mais
positiva e a um menor desajustamento psicológico.
Em
segundo lugar, alguns factores ou competências psicológicas parecem
assumir uma importância fundamental na diferenciação entre as pessoas
melhores e as menos bem sucedidas, bem como um peso mais ou menos
decisivo no rendimento pessoal: o controlo da ansiedade, a concentração,
a autoconfiança, a preparação mental e a motivação, são factores a
considerar para fortalecer a nossa defesa pessoal.
Com
efeito, os homens de sucesso parecem possuir um maior nível de
competências de regulação e controlo da ansiedade competitiva e de
atenção e concentração; mostram-se mais autoconfiantes nas suas
competências e capacidades; estão mais motivados para o desafio e
realização profissional e dispendem algum esforço e um maior cuidado com
a sua preparação mental, para aumentarem o desempenho profissional.
Paralelamente
e ao nível dos trabalhos colectivos, os melhores profissionais parecem
também evidenciar maiores níveis de orientação no grupo e no sucesso da
equipa.
Finalmente, algumas variáveis
parecem moderar e/ou mediar o impacto dos factores e processos
psicológicos no rendimento e no êxito pessoal. É o caso, entre outras,
da idade, da experiência pessoal, do sexo e das características da
reacção pessoal (individual versus colectiva; competências abertas versus competências fechadas; contacto versus não contacto).”
Os
estudos já efectuados demonstram que o efeito de tais variáveis
moderadoras não pode ser ignorado, não só no estudo das características
psicológicas, mas também no impacto dos factores psicológicos na
determinação, explicação e predição do rendimento competitivo.
Resta,
assim investir para não sermos destruídos nos factores da personalidade
na tentativa de identificar e determinar os comportamentos das pessoas,
de as comparar entre si e sobretudo de prevenir reacções nefastas que
possam estar associadas a determinados traços da personalidade.
Quando
usamos o termo personalidade queremos designar as características
relativamente estáveis de uma pessoa, que engloba os aspectos cognitivos
e afectivos. Dois conceitos terão de ser aqui incluídos, um biológico -
o temperamento (emotividade, força interior) outro psicológico - o
carácter (aspectos relacionais), que por sua vez são responsáveis pelos
nossos estados de humor (tristeza, excitação, euforia).
Todo
o nosso comportamento é resultante da nossa personalidade que foi sendo
modelada ao longo da vida. Assim cada um de nós apresentará o seu
estilo cognitivo e fará o tratamento da informação à sua maneira. Uns
serão mais intelectuais, outros mais pragmáticos, uns mais auditivos,
outros mais críticos, uns mais pormenorizados e aproximar-se-ão mais dos
detalhes, outros mais superficiais.
Todo
este relacionamento comportamental resulta da permanente inter-acção
que a pessoa tem com o meio ambiente e do seu exercício sensório-motor
que permite a consciencialização e conceptualização das acções
materiais. Diferentes pessoas elegem diferentes ambientes. Estas
diferenças resultam das suas experiências vivenciais que se repercutem
nelas e que serão consequência das suas origens familiares, dos seus
amigos, de todo o ambiente que para si elegeram, desde a música que
ouvem às leituras que fazem.
Criando a
sua personalidade, constituída pelas três vertentes – biológica,
psicológica e social, que os leva a reagir, controlar e actuar, com
regularidade e estabilidade, em todas as situações que surgem,
organizando e motivando padrões de resposta específica e determinando a
sua conduta.
As pessoas diferem umas
das outras criam os seus sistemas de defesa que serão a base das
características da personalidade. A variedade é imensa. É preciso ter em
conta estas diferenças para melhor compreender os homens e em
particular entender os sistemas de formação e de gestão dos recursos
humanos utilizados.
A preparação e
treino mental é o nosso segredo para resistir às intempéries sociais e
políticas que nos tentam destruir e aniquilar.
(*) Doutorada em Medicina
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