OPINIÃO: "Estamos muito cansados. Somos homens e mulheres de Esquerda"

Por: Isabel Faria

À minha Esquerda (e em nome colectivo porque, de vez em quando, há que perceber que não estamos sozinhos...e dizê-lo).

Estamos muito cansados. Somos homens e mulheres de Esquerda, éramos adolescentes, jovens adultos, ou ainda pouco mais que meninos, no 25 de Abril, ou em 75, levámos com as bebedeiras e com as ressacas, melhor, embebedámo-nos e ressacámos, experimentámos tudo, unimos quando foi preciso unir, seguimos cada um o nosso caminho, outras vezes, que não desistimos nem de pensar pela nossa cabeça nem de acreditar que era possível fazer mais, fazer diferente e, porque não?, fazer melhor, passámos pela esquerda revolucionária ou acreditámos que o PCP podia ser o caminho, fizemos campanhas presidenciais separadas, e muitas em comum, mesmo quando, nas em comum, engolíamos sapos e outros bicharocos, calcorreámos a Avenida da Liberdade juntos, vezes sem conta, não estivemos na Fonte Luminosa em 75, mas fomos lá mais tarde, também vezes sem conta, fizemos o Bloco de Esquerda, desencantámo-nos com o Bloco de Esquerda, encontramámo-nos nas Festas do Avante e nas manifestações Anti-Guerra, saímos à rua em Marços e Setembros, cantámos a Grândola por esses dias e lugares fora, muitas vezes olhámo-nos com desconfiança, mas sempre soubemos que estávamos, que estamos do mesmo lado.

Por isso estamos cansados. Dos sectarismos, das hesitações, das falsas purezas. Do ou é unidade com todos ou nós é que somos a unidade, dito e redito para nada fazer, deixando os outros, os que todos sabemos que estão do outro lado, indo dando cabo dos nossos sonhos. da nossa vida, de nós, do futuro dos nossos filhos. Fartos que o BE, que tantos construimos, se esvaia nos seus desnortes, nas suas lutas fracticidas, nos seus fantasmas, nas suas incoerências. Fartos que o PCP continue igual a ele próprio, contentando-se com mais umas dezenas de milhares de votos, tentando sempre controlar iniciativas e trabalhadores, dividindo as lutas em boas, as que controla, e em más, as que não controla, fazendo-as no seu calendário, dizendo que a unidade ou é a "sua" unidade ou é desnecessária e significa ceder ao capital, como se a maior cedência ao capital, não fosse, anos e anos, estar sem lhe criar alternativa.

Estamos cansados da nossa Esquerda. Cansados de nós na nossa Esquerda. Queremos mais, queremos diferente e queremos agora. Já não temos 14, nem 18 nem 25 anos. Perdemos definitivamente a paciência para os amanhãs que cantam ou os ontens em que nos entretínhamos a ler os clássicos e a medir as purezas. Digamos que nos falta o tempo. Agora ś só mesmo encontrar forma de vos mostrar isso. Duma forma útil. Até porque basta andar por aqui para ver que somos muitos...eu arriscaria a pensar que somos mais que "vocês". E não me venham com tretas de que só falamos e nada fazemos...afinal, vocês nem fazem nem deixam fazer. Nem querem nem deixam querer. Nem acreditam e não suportam que acreditemos. Estamos fartos de vocês..mas continuamos claramente a acreditar que precisamos de vocês para vencer a austeridade que nos mata...afinal, só temos mesmo que encontrar forma de vos mostrar que mais do que nós de vocês, precisam vocês de nós. Porque ainda vos tratamos por camaradas, camaradas...mas temos cada dia menos disponibilidade e vontade de vos tratar como filhos adolescentes com a mania que sabem tudo...e só fazem asneiras.

E não, não precisamos que tomem chá em conjunto. E sim, continuamos a acreditar que os Partidos são parte integrante e indispensável da Democracia, não ó desta mas da que queremos construir....mas não vos perdoamos que se contentem com tão pouco, que se contentem com este simulacro de Democracia que nos mata em vida. Não vos perdoamos que se contentem em não desaparecer completamente ou em crescer um bocadinho à custa do desaparecimento dos outros...nós, homens e mulheres desta Esquerda, queremos viver...se a vocês a sobrevivência chega...não contem connosco!