CENTENÁRIO DO CONCELHO DE ALPIARÇA
CERIMÓNIA DE 2 DE ABRIL DE 2014
Auditório da Casa dos Patudos
Fernando Louro, Presidente da Assembleia Municipal de Alpiarça |
Discurso do
Presidente da Assembleia Municipal de Alpiarça, Dr. Fernando Louro
Ex.mo Senhor
Presidente da Câmara Municipal de Alpiarça,
Ex.mos Vereadores e
demais autarcas aqui presentes,
Excelentíssimos
Convidados e público em geral.
Uma mensagem especial para todos os que foram
homenageados. As minhas felicitações.
Umas curtas palavras, muito curtas, a fim de poder
mostrar quanto estou feliz por estar aqui hoje nesta cerimónia como
representante da Assembleia Municipal, porque isso me acontece pela primeira
vez, mas principalmente, por coincidir com o dia em que o concelho de Alpiarça
celebra 100 anos.
Embora esta cerimónia se realize todos os anos,
esta é uma ocasião especial, porque hoje se comemora o centenário do concelho,
1914-2014.
É a cerimónia do centenário.
Presumo que os homenageados deste ano sintam também
um prazer redobrado por esse facto.
Prazer que simbolicamente fica marcado por neste
ano, esta homenagem se realizar neste espaço, novo, bonito, elegante e
confortável, que passou a integrar a Casa-Museu dos Patudos.
A Casa de José Relvas.
José Relvas, o grande Republicano, nascido no
concelho vizinho da Golegã, mas a quem Alpiarça tanto deve, inclusive o facto
de ser concelho.
Não tenho a mínima dúvida que José Relvas amou
Alpiarça. Não tenho a mínima dúvida que José Relvas sentiu Alpiarça como a sua
própria terra. Assim como não tenho dúvidas de que os Alpiarcenses consideram
José Relvas como um dos seus, e que Alpiarça é efetivamente a terra de José
Relvas.
Aliás, é mais que isso, José Relvas e Alpiarça, se
identificam reciprocamente.
Para além de tudo o que nos fez, ainda nos deixou o
seu património.
Os Alpiarcenses serão eternamente gratos a José
Relvas. Só podem.
A situação política, económica e social em 1914,
com a existência de leis que proibiam o aumento das despesas públicas, bem como
o facto de ainda não estar aprovado o novo código administrativo, desaconselhava
que se criassem novos concelhos.
Foi a importância de José Relvas e certamente
compromissos assumidos para com o povo de Alpiarça, por parte do movimento
republicano, pela importância que esta terra e os Alpiarcenses tiveram na
implementação da Republica.
José Relvas não era apenas mais um Republicano. Ele
era um Republicano com muito peso, com muita influência, com muito prestígio e
com muitos amigos.
Foi preciso usar toda essa força, de modo a
conseguir separar a freguesia de Alpiarça do concelho de Almeirim e dessa forma
constituir um concelho autónomo.
O concelho de Alpiarça nasceu com a República, que
teve origem no positivismo iluminista, preocupada com a evolução e progresso da
humanidade, onde se acreditava que o interesse coletivo superava os interesses
particulares, na ideia de bem comum, na efetiva transformação e democratização
do país.
Era dado ao Estado um papel central, ao contrário
dos valores liberais que a antecederam, e tal como hoje nos aflige a todos.
Por culpas próprias, foram cometidos erros,
divisões, o que enfraqueceu drasticamente todo o projeto republicano, dando aso
ao golpe militar em 1926 que instalou um regime ditatorial, que deu origem ao
Estado Novo.
Assim surgiu o interregno com o Estado autocrático
e corporativista, interregno dos valores republicanos plenos, ao não assegurar
o interesse geral, capitulando aos interesses de uma oligarquia dominante e
conservadora e tudo fazendo para impedir a soberania popular. Sem
caraterísticas democráticas, com práticas ditatoriais. Onde o povo era
oprimido.
Finalmente, a democracia portuguesa saída da
Revolução de Abril de 1974, como a legítima herdeira da fibra e dos valores
republicanos.
O concelho de Alpiarça viveu
- 12 anos em plena 1ª Republica, numa fase
embrionária da sua existência;
- 48 anos na vigência da Ditadura militar e do
Estado Novo, onde as liberdades democráticas foram cerceadas, e onde os
Alpiarcenses souberam fazer da luta e da coragem, a sua arma.
- e os restantes 40 anos, vividos na república
nascida com o 25 de Abril.
Ao longo destes 100 anos deu ao país gente
prestigiada, gente com muito mérito, na área do desporto, na área das artes, da
medicina, agricultura, etc. etc.
Mas quero realçar, que Alpiarça e os Alpiarcenses
souberam viver todos estes 100 anos no lado certo da barricada, no lado certo
da vida.
Com um povo fraterno, solidário, o concelho de
Alpiarça optou sempre por estar do lado liberdade.
Já antes de serem concelho estiveram comprometidos
nas lutas liberais.
Durante o derrube da monarquia e implantação da
República, o papel dos Alpiarcenses foi muito importante, quiçá decisivo.
Mas já na vigência do concelho, numa época mais
próxima da nossa existência atual, e como todos sabemos, Alpiarça teve um papel
preponderante na luta contra a ditadura, contribuindo para o surgimento do
regime democrático de 25 de Abril.
Foram imensas as vítimas Alpiarcenses nesta luta
corajosa, marca da nossa terra.
Nas últimas eleições realizadas durante a ditadura,
o concelho de Alpiarça, juntamente com o concelho da Moita e Barreiro, foram os
únicos onde a oposição saiu vencedora.
Nem com a falta de liberdade, nem com toda a
corrupção verificada no processo eleitoral, foi possível evitar esta vitória da
liberdade em Alpiarça.
Mas estas coisas não acontecem por acaso. Dão muito
trabalho.
Para terminar, quero pedir uma grande salva de
palmas para este concelho, que hoje é menino.
Obrigado.