Sobre a hipocrisia dos falsos lobos e dos falsos cordeiros
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Por: Anabela Melão |
A hipocrisia fede quando alimentada pelo desejo
de se sobrepor ao outro que o hipócrita entende atravessar o seu caminho. A
sentença filosófica Hobbesiana ("Omini Lupus Omini" - "O homem é
o lobo do homem") demonstra bem como a hipocrisia se instala por dentro e
por fora do hipócrita. "Lobo na pele de cordeiro" é um lema que hoje
se inverteu na "hipocrisia do bem" - "O cordeiro na pele de
lobo" dá-se particularmente bem na habilidade de sobrevivência no sistema
corrupto e cruel, adequando-se ao pensamento e ao comportamento da maioria, de
maneira mais ou menos disfarçada, como uma capa protetora identitária, que o
hipócrita, habilidosamente retira no momento certo e específico, assim
convertendo ora o lobo em cordeiro ora o cordeiro em lobo. Porém, basta uma pequena
brecha, um pequeno descuido, para que se revele a sua verdadeira identidade, e,
em segundos, iluminar o lobo solitário, cansado da sua própria farsa. A
hipocrisia é a hipocrisia, numa concepção maniqueísta entre bem e mal ou não,
uma preparada máscara de aparência fingidora, que se importa com o belo fútil
que se corrompe e é finito. O hipócrita é acomodado com as facilidades
proporcionadas pelo mero facto de o ser, evitando assim os esforços e
sacrifícios exigidos aos que não se vestem com a mesma pele, chegando facil e
inusitadamente aonde quer. O lobo luta por si só e usa os outros, suga as
energias dos que não são seus interpares, força os outros a para trabalhar para
ele e, sobretudo, a trabalhar para os seus próprios objectivos, limitando-se a esperar,
acomodado. Já o cordeiro disfarçado de lobo protege-se do mal com o mal, não
significa que ele pratica o mal, ele finge, assim como o lobo finge praticar o
bem. Retomando a questão: é preciso caracterizar a hipocrisia numa concepção
maniqueísta entre o bem e o mal? Perceber o que é do bem e o que é do mal, é
muito relativo e até dogmático. Se seguirmos a frase hobbesiana: "o homem
é o lobo do homem", pode-se, num certo momento ser o lobo e noutro momento
ser o cordeiro, consoante mais convenha, pelo que é a relatividade do momento
que pontua o sentido da hipocrisia. A única coisa que importa é que,
independentemente do momento e das conveniências, recusemos a ser, quer o lobo
quer o cordeiro, mas apenas e tão-somente nós próprios, uma parta nossa de lobo
e outra parte nossa de cordeiro, mas ambas nossas. Sem perder a coluna, a alma,
e, sobretudo, sem perder a vergonha
Aqui está outro texto que conseguiria passar as apertadas malhas da censura e que é bem elucidativo do tipo de pessoas que temos muitas vezes a governar-nos.
ResponderEliminarParabéns à autora, Anabela Melão.