Por: Antonieta Dias (*) |
A hipoglicemia (baixa de açúcar)
é uma complicação aguda frequente nos doentes diabéticos, tratados com insulina
e sulfonilureias.
Pode corresponder a um efeito
adverso do tratamento e ser uma causa de recurso aos serviços de urgência.
Pela sua gravidade pode ser
necessário internar o doente para o estabilizar, e em casos extremos evoluir
para a morte.
A hipoglicemia caracteriza-se por
uma concentração plasmática de glicose (açúcar) no sangue demasiado baixa que
origina sinais/sintomas que perturbam o metabolismo devido às disfunções que
provocam, designadamente a nível cerebral.
Nem sempre é fácil fazer o
diagnóstico desta situação clinica, devido à presença de inúmeras doenças que
podem desencadear quadros de hipoglicemia, havendo a necessidade de fazer o
diagnóstico diferencial com outras patologias.
Os parâmetros de glicemia
determinados no paciente irão variar, conforme se trate de um doente diabético
(diabetes mellitus) ou de um doente não diabético.
Se estamos perante uma situação
clínica de hipoglicemia de um doente não diabético, apesar de se tratar de um
quadro clínico raro temos de o equacionar e medicar adequadamente.
Quando avaliamos um paciente
neste contexto (hipoglicemia em doente não diabético) com valores de glicemia
inferiores a 55 mg/dl, é obrigatório fazer uma história clínica detalhada, para
conseguir diagnosticar a etiologia da hipoglicemia.
Estes doentes deverão ser
investigados exaustivamente, interrogados sobre eventuais terapêuticas que lhes
tenham sido instituídas, que possam ser responsáveis pelo aparecimento de
hipoglicemia, e só se pode parar a investigação clínica quando se obtiver o
diagnóstico seguro.
Outras causas deverão ser
observadas para que não existam falhas no diagnóstico diferencial, tendo sempre
em atenção antecedentes cirúrgicos, designadamente bypass gástrico, excesso de
ingestão de bebidas alcoólicas, consumo de medicamentos potencialmente
hipoglicemiantes e se o paciente se encontra hemodinâmicamente instável (doente
crítico), outras causas poderão estar na origem da hipoglicemia, nomeadamente a
sépsis, a doença neoplásica extra – pancreática, a falência hepática ou renal,
a malária, os déficits hormonais, a caquexia entre outras.
Porém, quando surgem situações de
hipoglicemia em doentes com Diabetes Mellitus, a abordagem do doente deverá ser
efetuada de forma diferente , pelo facto de se tratar de uma complicação aguda
da doença, muitas vezes desencadeada pelos próprios fármacos usados no seu
tratamento, destacando-se a glibenclamida, como a terapêutica que apresenta
maior risco.
As biguanidas (metformina), as
tiazolidinedionas ou glitazonas (rosiglitazona, pioglitazona), são mais
seguras, e por isso têm menos probabilidade de desencadearem crises de
hipoglicemia.
É do conhecimento comun que a
principal fonte de energia para o cérebro é a glicose, porém as reservas
cerebrais de glicose rapidamente se esgotam (minutos), implicando uma
manutenção energética de glicose permanente mantida em níveis que não
comprometam o metabolismo cerebral normal.
Se não conseguirmos equilibrar os
níveis de glicemia, e constatarmos que continuam sempre a descer podendo
atingir valores inferiores a 55 mg/dl, haverá obviamente lugar a lesões
cerebrais irreversíveis, que poderão ser responsáveis por crises convulsivas,
coma ou até morte.
Importa, contudo referir que as
situações de hipoglicemia no doente diabético, obrigam a uma vigilância por
parte de todos os profissionais de saúde e implicam uma atenção permanente,
sempre que o paciente regista valores de glicemia de 70 mg/dl ou menos.
A hipoglicemia pode ser ligeira,
moderada ou grave, sendo classificada como grave quando implica tratamento
médico quer seja através da administração de hidratos de carbono, medicação
parentérica ou ainda intervenção com manobras de ressuscitação.
A American Diabetes Association
classifica como hipoglicemia sintomática, sempre que existam sintomas típicos
de hipoglicemia em pacientes cuja determinação da glicemia capilar permanece
com <= a 70 mg/dl, podendo estar associados outros sintomas inespecíficos
como náuseas ou cefaleias.
Deverá pensar-se num quadro de
hipoglicemia, sempre nos encontramos perante uma pessoa com pele suada, fria,
pálida, com taquicardia ou mesmo taquipneia, sendo este último mais raro nos quadros de hipoglicemia.
Esta sintomatologia poderá ser
ainda mais grave se for acompanhada de alterações do estado de consciência,
e/ou lesão neurológica focal que poderão ser confundidos com acidentes
vasculares cerebrais ou até com quadros psiquiátricos tipificados pelo estado
comportamental dos doentes que se tornam agressivos, hostis, com ou sem
comportamentos antissociais por vezes bizarros, que poderão mascarar os quadros
de hipoglicemia.
Existem sinais de alerta que
despertam a nossa atenção designadamente: diaforese, tremor, parestesias,
ansiedade, palpitações, fome, alterações comportamentais, déficit cognitivo,
confusão mental, crises de agitação psicomotora, convulsões ou coma.
Sabe-se que as principais causas
de hipoglicemia, têm por base a administração de doses elevadas de sulfonilureias
ou de insulina em doentes que praticam exercício físico desajustado ao
tratamento, ou por exemplo quando existe uma desregulação no horário de
administração da insulina com o horário da refeição.
Podem ainda ser causas de
hipoglicemia o consumo de álcool em excesso, bem como quadros de vómitos ou de insuficiência renal.
O tratamento da hipoglicemia deve
ser instituído de imediato, com administração de 100 a 200 ml de sumo de fruta
(não light), se a crise surgir em
casa ou na rua.
Se o paciente se encontra em meio
hospitalar, deve administra-se dextrose, com prévia determinação da glicemia
capilar, sempre que o valor encontrado for < 70 mg/dl.
Se estamos perante um doente
diabético, consciente e sem dificuldades de deglutição, a opção passa pela
administração por via oral de 15 a 20 gramas de hidratos de carbono (3 pacotes
de açúcar) diluídos em água.
A administração de fármacos
(glucose), por via parentérica será utilizada sempre que o paciente tiver
dificuldades em deglutir ou se estiver inconsciente.
O objetivo do tratamento da
hipoglicemia consiste na reversão imediata dos sintomas e na normalização da
glicemia.
Em suma, é fundamental estar
atento às manifestações e aos sinais de alerta que sejam indiciadores de uma
crise de hipoglicemia, para agilizar de imediato o tratamento dos doentes.
Recomenda-se ao doente diabético
que deve estar sempre munido de 2 a 3 pacotes de açucar, tendo ainda o cuidado
de alertar também os familiares e/ou cuidadores, para uma a necessidade de
intervenção imediata com ministração de açucar por via oral, sempre que ocorra
uma crise de hipoglicemia.
Por fim, resta ainda alertar o
doente diabético que após a correção da crise de hipoglicemia, deverá fazer uma
refeição rica em hidratos de carbono de absorção lenta, intercalada antecipando
a refeição seguinte, devendo ainda permanecer em vigilância por um período
variável que poderá atingir as 24 horas ou mais, pelo risco do aparecimento de
hipoglicemias recorrentes.
(*) Doutorada em medicina
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