domingo, 14 de outubro de 2012

Temas de Saúde

 Por: Antonieta Dias (*)

Portugal está a acabar com mais um organismo imprescindível para apoiar os doentes que estão na fase terminal da ua doença em que a sua esperança de vida é “espectável até um dia demasiado próximo.”
Numa altura em que apenas existe resposta para cerca de cinquenta por cento das necessidades (50%), dos apoios sociais, no âmbito dos cuidados paliativos, surge mais outra medida destruidora na esperança do Serviço Nacional de Saúde.
Em vez de se aumentarem o número de camas disponíveis na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e de Cuidados Paliativos surge a ideia de transferir camas da RNCCI, para a Rede de Cuidados Paliativos, tornando ainda mais carenciado este sector da saúde.
Os Portugueses vão perder o direito de morrer com dignidade. É inconcebível que existam pessoas insensíveis ao sofrimento humano, distanciadas e desconhecedoras dos dramas em que os doentes e as suas famílias vivem, e que troquem os cuidados básicos de sobrevivência por luxúria, numa País sacrificado por uma dívida resultante de uma gestão desastrosa e com a conivência de todos os partidos políticos.
Passamos a existir como números, deixamos de ser seres humanos e nada nem ninguém consegue demover esta destruição global de um sistema de saúde que protegia os portugueses e que passou a ser um “fardo”, que tem de ser necessariamente aniquilado.
De um lado da barricada temos a austeridade, a insensibilidade e a desumanidade, que contrasta com o desaforo do desperdício, da utilização dos dinheiros públicos para pagar os luxos de uma classe que apenas consegue vender o Património Nacional e aplicar impostos sucessivos a quem já nada mais tem para dar.
Todos os dias somos surpreendidos por medidas penalizadoras, onde tudo serve de justificação para “aliviar” o défice.
Será que se quer mesmo resolver o problema económico do País ou o que se procura é o enriquecimento ilícito de algumas das personagens que socialmente se intitulam como protectoras de uma economia destinada a “salvar Portugal.”
Não podemos permitir que o Sistema Nacional de Saúde seja destruído nem que o Estado, deixe de cumprir o seu dever de soberania.
Existem responsabilidades na protecção social do cidadão que não podem ser suprimidas, com base em argumentos economicistas que asfixiam a Nação.
Se curar a doença é o principal objectivo dos profissionais da saúde, infelizmente nem sempre o êxito é obtido, cabendo então aos serviços de saúde a responsabilidade de criar as condições necessárias para aliviar o sofrimento e dar dignidade à fase terminal da vida do doente cuja incurabilidade já está instalada.
Tendo em conta, a situação da incurabilidade de uma patologia que inevitavelmente se traduzirá na morte, resta-nos a obrigação de apoiar e assistir o paciente com uma equipe multidisciplinar para dar resposta à complexidade de um conjunto de factores de carácter psicológico, físico, social e existencial, contextualizada num esquema de abordagem clínica, programada, planificada e dirigida ao apoio global que o doente precisa.
Neste contexto, para além da necessidade de ter profissionais com formação e treino diferenciado para cuidar, é imprescindível criar as condições para a institucionalização deste grupo de doentes em que o fracasso da medicina, resultou da inexistência de terapêuticas eficazes para os curar.
Em Portugal, foi criada a Rede Nacional de Cuidados Paliativos, que visava uma distribuição geográfica equitativa em todo o território nacional destinada a garantir a assistência a qualquer doente que carecesse destes cuidados de acessibilidade fácil independentemente do local onde o doente residisse.
Na base deste projecto estava a intenção do crescimento institucional no âmbito do apoio integrado do Serviço Nacional de Saúde(SNS), adaptado à necessidade da procura, isto é baseado no aumento progressivamente do número de camas de forma a cobrir as crescentes carências do sector.
Assim, um grande avanço, surgiu quando foi criada pelo Decreto – Lei n.º 101/2006, de 6 de Junho a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, no âmbito dos Ministérios da Saúde e do Trabalho e de Solidariedade Social, cujo objectivo geral era a prestação de cuidados continuados integrados, incluído a prestação de Cuidados Paliativos.
Porém, com o aumento da longevidade, surge um aumento de doenças crónicas de carácter progressivo, altamente limitadoras, com consequente perda de autonomia dos doentes para os actos de vida diária, implicando por isso um sucessivo alargamento destas instituições.
Assim, o Programa Nacional de Cuidados Paliativos deveria ser entendido como um pilar de suporte vital nos cuidados de saúde e uma obrigatoriedade Nacional do Serviço Nacional de Saúde, que merecia ser cumprida.
Este Programa deveria funcionar como um imperativo destinado a promover os direitos fundamentais de uma população fortemente dependente e carenciada que sob o ponto de vista ético, social e institucional, obriga a organizar um plano de saúde prioritário da política sanitária de um País que se intitula de civilizado.
Importa, ainda referir que a Organização Mundial de Saúde considera os Cuidados Paliativos como uma prioridade política de saúde recomendando a sua abordagem programada, planificada e assertiva para resolver os múltiplos problemas destes doentes que se encontram na fase final da sua vida, em que os cuidados paliativos são essenciais para lhes prestar um apoio condigno.
Por sua vez, o Conselho da Europa, tendo reconhecido as graves deficiências e ameaças ao direito fundamental do ser humano, faz as suas recomendações, no sentido de que sejam criadas as condições para apoiar e assistir os doentes que vão morrer, não permitindo que a solidão e o sofrimento angustiem ainda mais a sua esperança de vida, incentivando à criação de medidas preventivas apropriadas que promovam e sustentem a protecção da dignidade do doente incurável, de forma a possibilitar-lhe a escolha de receber os cuidados de saúde no seu domicílio, integrado no seu ambiente familiar ou se isso não for possível disponibilizar vagas institucionalizando-o, sob a responsabilidade do Serviço Nacional de Saúde.
O Parlamento Europeu, no documento” Cuidados Paliativos na União Europeia” (Palliative Care In European Union, 2008),” reforça o papel das redes integradas, multidisciplinares, com diversidade e complementariedade de respostas, mas também um planeamento flexível que comtemple as diferentes características de zonas rurais e urbanas. O mesmo documento, refere que cada país tem fórmulas diferentes para a provisão de cuidados, (embora o apoio domiciliário seja o preferido) ”
Acresce ainda a directiva da Associação Europeia para os cuidados Paliativos (EAPC), através do documento “Standards and norms for hospice and palliative care in Europe – The EAPC white paper”que propõe e sugere a adopção, nos diferentes países europeus, de um conjunto de padrões, normas e conceitos consensualizados para que se definam os mínimos estruturais e conceptuais básicos no sentido de garantir a qualidade dos cuidados paliativos”.
Com base nestas recomendações, não é permissível assistir ao incumprimento de directrizes e de normas europeias, numa comunidade, que se designa por Portugal, cujo destino não está vocacionado apenas para receber empréstimos e obrigar os cidadãos ao pagamento de impostos sucessivos, retirando-lhes o que têm de mais precioso na VIDA, ou a assistência na morte.
Em suma, é urgente que se analisem os prejuízos que têm sido causados aos portugueses em todos os sectores e de uma forma muito particular no âmbito da saúde, tendo em conta que os recursos disponíveis das pessoas não são ilimitados e que rapidamente entrarão em falência colectiva, se lhes for retirado, o que se considera vital para a sua sobrevivência.

(*) Doutorada em Medicina

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