Actividade
política em Alpiarça – 1959/1960
Comité
local do PCP é duramente atingido pela PIDE
Por
José João Pais (foto)
Continuando a abordagem que temos feito sobre as
movimentações políticas em Alpiarça antes de 1974 vamos hoje lançar um olhar
sobre o modo como funcionavam as estruturas politicas em Alpiarça e o ataque
que lhe é movido pela polícia política, PIDE.
O cenário que se apresentava a Portugal em fins da década de
50 e início de 60 era negro. Perdíamos de uma forma humilhante a chamada “India
Portuguesa”. Há o assalto ao navio “Santa Maria”, por Henrique Galvão.
Inicia-se a guerra no norte de Angola. Em Alpiarça o panorama era também de
angústia, mas também de inconformismo e rebeldia face ao poder.
As greves realizadas em 1959 levaram à detenção de muitos
alpiarcenses, conforme tive oportunidade de relatar em artigo anterior. Mas o
alvo principal a abater era a estrutura local do Partido Comunista. Não é por
acaso que, após a greves de Maio de 1959, se desloca para Alpiarça o Chefe de
Brigada da PIDE, António Rosa Casaco, um especialista no conhecimento das
estruturas do Partido Comunista. O seu objectivo era atingir o “coração” da
estrutura comunista local. De facto, grande parte dos seus membros mais
influentes acabam por ir parar às prisões política, sobretudo para o Aljube,
Caxias e Peniche. É o caso de António Curvacho Centeio, António Alcobia
Chamusquenho, Olímpio Oliveira, João Sanfona, Pedro Lobeiro do Norte e
Francisco Concho Cardoso.
Estas detenções provocam alarme em Alpiarça, sobretudo a de
António Centeio, que foi a primeira a ocorrer a 25 de Setembro de 1959. Após
esta detenção, os responsáveis políticos locais resolvem, de imediato, convocar
uma reunião de emergência. O local escolhido, afastado de Alpiarça por questões
de segurança, foi junto à ponte da Chamusca. Estiveram presentes nesta reunião
Avelino Leandro dos Santos, Olímpio Oliveira, Francisco “Galiza” e Manuel
Mendes Colhe. Nela terá participado, também, António Antunes Canais, então
funcionário do partido comunista, pertencente à estrutura de Torres Novas. A
opinião geral é que todos eles deverão sair de Alpiarça imediatamente. É nesta
altura que Manuel Colhe e Francisco Galiza desaparecem da região e vão
trabalhar para o norte do país em regime de clandestinidade. O que se temia, de
facto, veio a acontecer. Muitos elementos acabaram por ser presos.
Avelino Leandro dos Santos “o Avelar”, era aquele que tinha
menos responsabilidades em termos partidários, embora as suas movimentações
lancem bastantes suspeitas à PIDE. Sabe que distribui imprensa clandestina e
deteta a sua presença numa célebre reunião realizada a 1 de junho de 1958 na
sede da revista “Seara Nova” em Lisboa, durante a qual se forma a União da
Juventude Portuguesa, para substituir o MUD juvenil, cujo nome já se
considerava politicamente queimado. De facto, o Avelino passa a pertencer à
estrutura local desta nova organização, ligada ao Partido Comunista, juntamente
com o António Curvacho Centeio, António Miguel Gaspar, Acácio Fidalgo, Vitória
Sardinheiro e Madalena Oliveira. Só vem a ser preso a 13 de Outubro de 1961.
Outro elemento que está na mira da PIDE é Manuel Coutinho
Pereira, o “Manuel Cadimas”. Será detido em Outubro de 1959. O seu envolvimento
político já vinha de 1948 quando Carlos Pinhão e Aureliano Cravo o convidaram
para fazer parte do MUD Juvenil. Em 1958, na sequência das eleições para a
presidência da Republica, em que apoia a candidatura de Arlindo Vicente e depois
de Humberto Delgado, Manuel Mendes Colhe aborda-o no sentido de ter uma
intervenção mais activa em termos partidários. De facto, Cadimas está presente
nas reuniões realizadas na Quinta do Meirinho onde se decide avançar para a
greve dos trabalhadores agrícolas de Maio de 1959. É detido no mesmo dia de
Avelino Leandro dos Santos, a 13 de Outubro de 1961.
Outro elemento que não escapa à prisão é o marceneiro
Olímpio Francisco Oliveira. É um dos responsáveis pela comissão concelhia
juvenil do Movimento de Unidade Democrática (MUD) do qual fazia parte
juntamente com Joaquim Paulino (pedreiro), João Sardinheiro (carpinteiro),
Virgolino Lagarto (camponês) e, mais tarde, Madalena Oliveira e Vitória
Sardinheiro. Faz campanha nas presidenciais de 1958, primeiro ao lado do Dr.
Arlindo Vicente e depois apoiando Humberto Delgado. Está também presente na
sede da “Seara Nova”, a 1 de Junho de 1958, quando se cria a já citada União da
Juventude Portuguesa. Olímpio passa a usar o pseudónimo partidário de “Gabriel”
e fica a ser “controlado” por Francisco Concho Cardoso, de quem recebe a
imprensa clandestina partidária para distribuir (Avante, Camponês e o
Militante). É preso pela primeira vez em 30 de Setembro de 1959 e libertado a
20 de Agosto de 1961. Depois de um ano na clandestinidade, é preso, de novo, a
26 de Junho de 1965, no Porto. É libertado a 14 de Novembro de 1965.
Outro elemento, a que já fizemos referência, que vê a sua
liberdade posta em causa é António Alcobia Chamusquenho. Também fez a sua
aprendizagem política no MUD juvenil desde 1949. Em 1959 é um dos presentes na
reunião da Quinta do Meirinho que prepara a greve ao trabalho no campo em Maio
desse ano. Nesta reunião, como referimos em artigo anterior, e para melhor
organização, ficaram estruturadas 5 células de camponeses, à frente das quais
ficaram Francisco “Galiza”, Manuel Colhe, António Centeio, João Sanfona e
António Alcobia Chamusquenho.
Assim, António Chamusquenho, que nas relações partidárias
era conhecido por “Bia” teria ficado a controlar Pedro Lobeiro do Norte, que
ficou com o pseudónimo de “Jacinto”; Francisco Coelho Matias ficou como
“Ferreira”; Manuel Libânio, como “Castro”, Jaime Queimadela António “o Pardal”;
João Paulino Favas “o Pinto” e Joaquim Leandro “Água”. Havia também outro elemento,
não ligado ao partido, mas simpatizante, o Mário Balsa, que estava ligado ao
seu cunhado Jaime Queimadela António e o Francisco Salvaterra.
Francisco Concho Cardoso também era um elemento a quem a
PIDE seguia com atenção. Pertencera ao MUD juvenil. Estivera na sede da “Seara
Nova”. Em 1958 fazia parte do comité local de Alpiarça do PCP. A sua primeira
reunião, como elemento desta estrutura, realizou-se num local situado na
propriedade denominada “Joana Vaz”. Passa então a usar o pseudónimo de
“Julião”. Deste comité fazem parte o António Chamusquenho, “Bia”; Manuel Mendes
Colhe, o “Tomé”; João Sanfona, o “Primo”; e Francisco Presuncia Bonifácio,
“Galiza” que usava o pseudónimo de “Rafael” e que era o responsável máximo.
Francisco C. Cardoso foi preso em 18 de Outubro de 1958 e só foi julgado em 19
de Outubro de 1960. É condenado na pena de 2 anos de prisão maior, suspensão de
direitos políticos por 15 anos, na medida de segurança de internamento
indeterminado, de 6 meses a 3 anos prorrogável. Em 27 de Novembro de 1964 ainda
estava em Caxias, altura em que é transferido para a cadeia de Peniche. Em 23
de Fevereiro de 1965 sai em liberdade condicional pelo prazo de 5 anos.
Pedro Lobeiro do Norte e João Sanfona foram também parar ao
Aljube e a Caxias. O primeiro vinha a ser seguido e anotada a presença em
várias reuniões, nomeadamente algumas muito suspeitas realizadas em casa do
Chamusquenho onde se discutiam formas de agitação na praça de jorna. Foi detido
a 16 de Novembro de 1959, tendo sido condenado a 23 meses de prisão e na
suspensão dos direitos políticos por 5 anos.
João Sanfona, por sua vez, que havia sido aliciado para a
actividade partidária por Francisco Concho Cardoso, militara também nas
fileiras do MUD juvenil desde 1949, tinha então 16 anos. Pertencia em 1959 ao
comité local do PCP, como já referimos. Tinha sob o seu controlo, entre outros,
António Farinha da Rosa e Pedro “Riu-Riu”. É preso em 24 de Outubro de 1959 e
condenado a 2 anos e 1 mês de prisão maior, na suspensão dos direitos políticos
por 15 anos e na aplicação de medidas de segurança de internamento, de 6 meses
a 3 anos, prorrogável. Em 26 de Março de 1965 foi-lhe concedida a liberdade
condicional pelo prazo de 5 anos.
Finalmente, façamos referência a António Curvacho Centeio. É
preso em 25 de Setembro de 1959, como já atrás anotámos, depois de ter sido
apanhado, por acaso, pela GNR na estrada do campo, com um saco cheio de jornais
Avante em cima da sua bicicleta. Passa pelo Aljube e entra em Caxias a 2 de
Novembro de 1959. É julgado a 19 de Outubro, tal como os seus colegas do comité
local. É condenado a 2 anos e 2 meses de prisão maior, confisco dos direitos
políticos por 15 anos e medidas de segurança de internamento indeterminado, de
6 meses a 3 anos, prorrogável. Passa também pelas prisões privativas da
delegação do Porto da PIDE, pela Cadeia Central do Norte e, em 20 de Março de
1964 entra na cadeia de Peniche, donde sai em liberdade condicional a 23 de
Março de 1965.
São também presos nesta altura, mais precisamente a 16 de
Novembro de 1959, António Farinha da Rosa, que é libertado a 10 de Março de
1961; Pedro “Riu-Riu”, libertado a 16 de Janeiro de 1961; Francisco Godinho
Abreu, libertado no mesmo dia em que foi preso; Manuel Lobeiro Bernardo “Manuel
Líbano” libertado a 23 de Novembro de 1959; João Paulino Favas, libertado uma
semana depois da detenção e Francisco Almeida “Salvaterra”, este detido a 21 de
Novembro e libertado a 11 de Maio de 1960.
Só Manuel Mendes Colhe e Francisco Galiza conseguem escapar
a esta onda repressiva “mergulhando” na vida clandestina.
1959 e 1960 foram, de facto, anos negros para os ativistas
políticos de Alpiarça. Grande parte deles passou pelas sinistras prisões do
Aljube, Caxias e Peniche.
Bibliografia
Livro “Presos
políticos no regime fascista”, da Presidência do Conselho de Ministros e da
Comissão do Livro Negro sobre o Regime Fascista.
Processos:
624/59;391-E;1038/61-PIDE-ANTT, Arquivos Nacionais da Torre
do Tombo
1 de OUTUBRO. Já só falta um ano para as eleições autqruicas em que vamos dar um valente pontapé nestes oportunistas todos que tomaram conta da nossa Alpiarça. RUA COM ELES
ResponderEliminarGabriela Relvas: Eu era ainda criança mas lembro-me deste episódio e até ja tinha comentado com algumas pessoas, mas diziam-me que não se lembravam. ainda bem que alguem se lembra que esta gente que arriscava tanto e que apenas pediam, Paz Pão e Trabalho, quem não se lembra desta fraze nas paredes de Alpiarça, pela calada da noite
ResponderEliminar(Facebook)
Se fosse hoje não acontecia nada disso. Os do PC não alinhavam com os do PS e do BE, os do BE não alinhava com o PC e PS e o PS com nenhum deles.
ResponderEliminarLutavam na altura porque tinham objectivos comuns e não por causa de um partido.
Hoje é possível fazer o mesmo, e só os partidos dividem e manipulam as pessoas.
A CGTP tornou o direito à greve banal.
Fazem-se grandiosas manifestações como as do dia 15, e vem logo a CGTP convocar uma a seguir para tentar manter as rédeas na população e acabar por desmobilizar as pessoas.
Bem vistas as coisas, o controlismo do PCP acaba por ser um travão à luta por objectivos comuns porque põe o partido acima dos interesses da população.
Se o historiador J.J. Pais aprofundar a sua pesquisa, há escritos em que o PCP contribuiu para desmobilizar o povo como na candidatura do Gen. Humberto Delgado por ter medo de perder o controle da oposição.
Dou os meus sinceros parabéns ao Sr. J.J.Pais pelo excelente trabalho que tem feito na recolha histórica.
Sugeria (não sei se será possível) entrevistar alguns dos sobreviventes dessa época, para memória futura.
"Se o historiador J.J. Pais aprofundar a sua pesquisa, há escritos em que o PCP contribuiu para desmobilizar o povo como na candidatura do Gen. Humberto Delgado por ter medo de perder o controle da oposição."
ResponderEliminarACHO MUITO RIDICULO ESTAS AFIRMAÇÕES. QUASE RIDICULARIZA O BELO TRABALHO FEITO POR ESTE HOMEM QUE TEM IDEIAS MUITOS RECTAS E NAO TEM RECEIO DAS PUBLICAR
PARABENS JOSE JOÃO