domingo, 6 de maio de 2012

Saúde, uma prioridade em Portugal

Antonieta Dias
doutorada em Medicina


 “Encerramento de Unidades de Saúde. Que implicações na assistência aos doentes?
Assistimos pacificamente às mudanças estruturais na área da saúde”

O encerramento dos hospitais e dos Serviços de Atendimento Permanente (SAP), tem feito parte das prioridades legislativas dos últimos governos.
Esta medida tem sido implementada, com a intenção de reduzir os custos, destinada a “minimizar”” o défice resultante de uma política desastrosa e de desperdício que se tem verificado ao longo dos últimos anos, com grave prejuízo para os pacientes, que não “são salvos.”
Não podemos de forma nenhuma permitir, que medidas puramente economicistas, coloquem  em risco a vida dos doentes.
Esta reorganização e centralização dos serviços hospitalares não tem contribuído para a minimização dos custos com a saúde, mas tem servido apenas, para aumentar o sofrimento dos doentes, e nalguns casos até  tem impedido claramente o acesso à assistência médica, que tem sido agravada pela falta de recursos financeiros dos doentes que estão cada vez mais empobrecidos, e acabam por “morrer” isoladamente “sós”, e ao abandono nos seus lares.
O legislador têm-se esquecido de alguns detalhes demasiadamente importantes e que agravam ainda mais este problema, como seja a falta de transportes no interior, a precariedade económica, a distância, o isolamento social e a idade avançada dos pacientes.
A permanente dificuldade e bloqueio no acesso aos serviços de saúde, contraria o respeito pelos direitos e liberdades fundamentais, previstos na Constituição da República Portuguesa.
Um governo que promove uma política de saúde em que os mais carenciados, se vêm coartados e impedidos de recorrer aos serviços públicos por carências económicas, é um governo, manifestamente insensível ao sofrimento e coloca em causa a garantia dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos, contempladas na Constituição.
O Estado de direito democrático vigente em Portugal pressupõe o respeito, a preservação da dignidade da pessoa humana, e uma sociedade estruturada de forma livre, justa e solidária.
Tendo em conta estes pressupostos, é uma obrigação da Nação proporcionar igualdade de acesso dos doentes aos cuidados de saúde.
Não é concebível ter doentes com tempos de espera de atendimento superiores a 3 horas ou mais, não estando aqui contemplado o tempo que o doente demora a chegar do seu domicílio ao hospital mais próximo, e muito menos a falta de recursos humanos, de equipamento  e algumas vezes de medicamentos, cujos stocks, não são repostos por questões económicas .
Todos nós sabemos que independentemente deste grande constrangimento e desumanidade, em que o sofrimento vivenciado pelos pacientes, que “desesperam”  para ser observados e tratados, gerando situações insustentáveis e  inaceitáveis, acresce ainda que determinadas patologias (enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral…etc, etc), se não forem assistidos atempadamente,   inibem os doentes  da utilização de terapêuticas que para além de diminuírem o risco de vida, minimizam as sequelas resultantes dessas mesmas  doenças.
Se considerarmos que a sociedade portuguesa é uma sociedade livre e igual para todos os portugueses, este direito inalienável,  de preservação e de assistência na doença que compete ao Estado, tem de ser respeitado.
Os pacientes têm que ter tratamento igual para a sua patologia, independentemente de viveram nos grandes centros, ou de habitarem nos meios rurais.
Importa, ainda referir que a permanente descomparticipação dos medicamentos tem onerado ainda mais o acesso aos cuidados de saúde.
Neste momento assistimos a uma panóplia de punições, onde a institucionalização dos custos quer transformar a medicina em matemática.
De certeza que como profissional responsável pela assistência e pela defesa do direito à vida tenho necessariamente que me unir aos mais pobres, aos mais desfavorecidos, aos mais carenciados e muito particularmente aos doentes que necessitam dos meus cuidados.
Farei uma defesa permanente de uma politica de saúde que proteja integralmente os cuidados necessários para curar ou minimizar as sequelas.
Lamentavelmente, e apesar de todas estas medidas de contenção de necessidades básicas de proteção individual , a despesa pública aumentou, deixando em aberto  uma exigência  que implica uma  reflexão sobre a política de saúde adotada nos últimos tempos, e repensar se este é o melhor caminho a adoptar…”

 NR: Todos os domingos será publicado no “Jornal Alpiarcense” um texto sobre “TEMAS DE SAÚDE” de autoria da   Dra. Antonieta Dias

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