Álvaro Santos Pereira passou de
‘ministro-estrela’ a ‘ministro-remodelável’ em poucos meses e, sobre
isso, já não há nada a fazer, passe o tempo que passar, demore o tempo
que demorar.
Os empresários e gestores, os cidadãos em geral, já incorporaram
esta decisão de Pedro Passos Coelho e, a partir de agora, há uma espécie
de contagem decrescente na Rua da Horta Seca. Mas ‘o Álvaro' é o
problema?
O ministro da Economia não é tão bom como nos venderam quando foi
anunciado o Governo, mas não é tão mau com nos querem vender hoje. O
problema central não está, portanto, em Álvaro Santos Pereira, é bem
mais profundo e complexo, e tem de ser resolvido por Pedro Passos
Coelho. E não vai resolver-se com a substituição do ministro da
Economia, embora o próprio não esteja, propriamente, a ajudar. Os
empresários e os gestores, as empresas não vão passar a criar emprego
por magia porque o primeiro-ministro remodela o ministro da Economia.
Ontem, o Governo anunciou incentivos fiscais e contratuais a oito
empresas nacionais, de locais como a Marinha Grande, Oliveira de
Azeméis, Óbidos ou Alpiarça. Quem fez o anúncio? O mesmo ministro que
tem de explicar aos portugueses, e ao mundo, a visão de Portugal sobre a
Síria e sobre o Afeganistão. Sim, esse mesmo, Paulo Portas, porque tem a
tutela da política externa e do AICEP. Ora, este anúncio de Portas, em
cima de uma crise política pública em torno da gestão dos fundos
comunitários - no fundo, da definição de quem manda no dinheiro que
chega de Bruxelas - revela, primeiro, descoordenação política e, depois,
ambiguidade nas definições de competências dentro do Governo e,
particularmente, do Ministério da Economia.
O ministério, tal como foi desenhado, exigia um ministro com peso
político, mas foi o primeiro-ministro que o desenhou assim. Álvaro
Santos Pereira não era esse ministro e, já o mostrou, não é, nem será. A
forma como o ministério tem sido ‘desmantelado' de competências
pré-anuncia o que vai na cabeça de Pedro Passos Coelho - e de Miguel
Relvas - mas não será suficiente. Veja-se o caso dos fundos
comunitários: Vítor Gaspar tem de ter uma palavra decisiva na aplicação
dos fundos na medida em que são necessários fundos do orçamento sempre
que há um investimento com recurso a dinheiro de Bruxelas, as
denominadas ‘comparticipações nacionais'. Mas deveria ser o ministro da
Economia, este ou outro, a fazer a gestão estratégica destes fundos, a
gerir a sua aplicação. Um outro modelo - uma gestão nas mãos de Vítor
Gaspar - vai resultar, necessariamente, num distanciamento entre o
Governo e as empresas. Porque as preocupações do ministro das Finanças e
do ministro da Economia não são as mesmas, às vezes, são até
conflituantes.
Álvaro Santos Pereira está a fazer o possível, dizem os empresários
ouvidos pelo Diário Económico. Tem de gerir uma reforma laboral que
motiva manifestações, mas tenta dar uma resposta ao desemprego, tem de
gerir um sector dos transportes que tem de despedir para ter futuro, tem
de gerir a falta de dinheiro que as empresas precisam para investir.
Neste contexto, quando o trabalho do ministro da Economia será tanto
melhor quanto mais diminuir a presença e influência do Ministério na
Economia, e aumentar a regulação, exige-se ainda mais governação
económica e coordenação política. Com ou sem Álvaro.
«Económico»
Sem comentários:
Enviar um comentário