Fernanda Cardigo
J.A.-Com o aumento do desemprego devido à crise que se gerou, estamos a assistir a um aumento de pobreza muito violento. Qual a vivência da autarquia com este novo fenómeno social?
P.J.-A autarquia acompanha a situação com apreensão e com alguma revolta. Uns causam os danos e os outros, câmaras e juntas de freguesia, cada vez com menos meios, tentam remediar situações.
Devido ao reduzido orçamento que a JF de Alpiarça dispõe, trabalhamos em rede com outras instituições, particularmente com a Câmara Municipal e com o CLAS, de modo a que a informação circule por quem deve circular, as situações sejam identificadas, que não haja apoios duplicados e estes sejam optimizados.
J.A.- Qual a sua opinião sobre as medidas que o governo pensa implementar após a decisão do Tribunal Constitucional, ao chumbar algumas leis?
P.J.-De lamentar, uma vez que continua o caminho traçado desde o início e que é essencialmente: corte nos rendimentos de quem trabalha para outrem, dos reformados e aposentados e a ameaça de novos aumentos de impostos.
J.A.- Acha que estas medidas de austeridade resolvem o problema do país?
P.J.-Não! Os resultados estão à vista e que, nós, os autarcas, os sentimos todos os dias. Mais pobreza, mais desemprego, jovens sem perspectiva de vida profissional e familiar (é preciso não esquecer esta vertente), empresas a fechar, menos riqueza criada.
J.A.- Qual a vossa opinião sobre a emigração (forçada/aconselhada) dos nossos jovens, principalmente os mais credenciados?
P.J.-Não se consegue compreender como é que jovens, pais e o país depois de, cada um ao seu modo, despender tanto esforço, o resultado é aproveitado por outros países. E o pior é que o governo português nada faz para contrariar tal situação, tendo mesmo inicialmente assumido o fomento da emigração. Uma coisa é um cidadão emigrar por vontade própria, outra é ver-se obrigado a tal, por motivos económicos. É um profundo retrocesso civilizacional, tal como se estivéssemos a voltar à década de 60.
J.A.- Sendo uma grande parte da população com idade superior a 65 anos e, na maioria com reformas mínimas e sem qualquer apoio familiar, qual o apoio que essa autarquia presta a essa faixa etária?
P.J.-A Junta de Freguesia de Alpiarça não tem programas próprios nesta área, mas coopera com outras instituições na tal estrutura em rede, também, por exemplo, na cedência de instalações e equipamentos para iniciativas nesse sentido.
J.A.- Qual a sua opinião sobre a redução de tribunais e repartição de finanças, principalmente no interior dos pais?
P.J.-É criado um sentimento de abandono, um distanciamento cada vez maior entre os serviços públicos e as pessoas, afinal a sua razão de ser, sendo, naturalmente, também mais um factor de desertificação de vastas áreas do país.
J.A.- Com o aumento de impostos e outras medidas tomadas pelo governo, quais as consequências poderão advir daí, na sua freguesia?
P.J.-O aumento de impostos e, consequentemente, a diminuição do rendimento das famílias e do tecido empresarial característico de um meio como o de Alpiarça afecta o desenvolvimento do concelho.
Por outro lado, se diminuírem as receitas da autarquia, maiores serão as dificuldades para a prossecução dos nossos objectivos, quando as carências das populações e os seus pedidos de apoio aumentam.
J.A.- Com a redução do parque escolar, como tem reagido a população a esta medida e quais as suas consequências?
P.J.-Em Alpiarça, devido à dimensão do concelho e ao tipo de povoamento, esse problema não se tem feito sentir muito.
J.A.- Com os problemas que têm surgido com o encerramento total ou parcial de Unidades de Saúde, como se encontra a vossa freguesia, nesta área?
P.J.-Na área desta freguesia / concelho a única unidade de saúde debatia-se há anos com uma gritante falta de médicos, o que veio a ser colmatado com a colocação de profissionais de nacionalidade cubana. Recentemente, com saída de dois profissionais, o panorama voltou a agravara-se, com utentes, a maior parte dos quais idosos, a ter que se deslocar de madrugada para o CS, sem garantia de consulta.
Entretanto, a colocação no decurso da presente semana de uma médica cubana poderá diminuir algumas dessas carências.
J.A.- Faça uma breve apresentação da freguesia, reportando-se à localização, extensão, número de habitantes, principais recursos económicos, entre outros.
P.J.-Alpiarça é um dos poucos concelhos com freguesia única, com 96 Km2 de área e em que grande parte dos seus solos são de boa ou elevada produtividade. Localiza-se no coração da antiga província do Ribatejo, com a sua actividade económica a assentar na agricultura intensiva (particularmente vinha, melão, milho, tomate e outras culturas para a indústria) e na agro-indústria.
A população ronda os 7.700 habitantes, com 13% da população residente empregada no sector primário, 21% no secundário e os restantes 66% no terciário (dados de 2011).
O concelho é também bem servido por equipamentos sociais, desportivos e de recreio.
J.A.- Como é que esse concelho se encontra em termos de vias de comunicação?
P.J.-As acessibilidades assentam na EN118 e na EM368, o acesso mais curto à capital do distrito, com limitações a pesados.
No entanto, num raio de dez quilómetros localizam-se nós de acesso ao mais importante eixo rodoviário do país, a AE1 (em Santarém), e à AE13 (em Almeirim).
O acesso à rede ferroviária nacional (Linha do Norte) é feito na estação da Ribeira de Santarém / Santarém, a 7 quilómetros da vila.
J.A.- Além dos problemas acima mencionados, quais os que considera que necessitam de maior intervenção na freguesia?
P.J.-As grandes questões que mais nos preocupam e que, em parte, já foram focados, são transversais ao país, não dependentes das juntas de freguesia e que nos dão muitas preocupações: a falta de emprego, por vezes com os dois membros do casal e filho ou filhos desempregados, a falta de saídas profissionais para os jovens, o envelhecimento da população e a diminuição ou mesmo a ausência de apoios sociais.
J.A.- Quais as perspetivas que tem para o futuro do freguesia?
P.J.-O futuro próximo, infelizmente, não augura grandes melhorias para a vida das pessoas. Contudo, apesar de todas as dificuldades que as autarquias atravessam, com optimismo, trabalhamos para as vencer, contribuindo para uma melhor qualidade de vida. É essa a nossa grande missão.
J.A.- Qual o seu grande projeto para a autarquia?
P.J.-Com as competências e, particularmente, com o orçamento da Junta de Freguesia de Alpiarça não se pode ter grandes projectos em vista. Por isso, procuramos trabalhar em conjunto com a Câmara Municipal para tentar ultrapassar as nossas limitações. Será o caso de obras de fundo no cemitério do Vale da Cigana, com repavimentação de arruamentos e arranjo de passeios.
J.A.- Como se encontra a situação financeira da autarquia?
P.J.-É uma situação equilibrada, com uma preocupação constante de redução de custos em áreas não fundamentais, para os redirecionarmos para as funções mais prementes de uma autarquia, tendo particular atenção ao período que, infelizmente, Portugal atravessa.
J.A.- Qual o apoio que a autarquia recebe da câmara municipal e a que nível?
P.J.-As relações com a Câmara Municipal têm sido óptimas, havendo uma permanente disponibilidade de cooperação nos mais diversos planos que, sublinhe-se, se desenvolve nos dois sentidos.
J.A.- Qual o envolvimento da população nos projetos da autarquia?
P.J.-A Junta de Freguesia de Alpiarça tem desenvolvido várias iniciativas no sentido de uma governação de proximidade. Desde a sua tomada de posse o actual executivo tem procedido a atendimento fora da sede, em quatro lugares da freguesia, difundido informação através do site da JF, do facebook, do jornal do concelho e de um blog.
Além disso, para fomentar o convívio entre fregueses e promover artistas e comércio locais criou a iniciativa “Aqui …ao luar”, que decorreu ao longo de todo o Verão.
J.A.- Quer deixar alguma mensagem aos cidadãos da sua freguesia?
P.J.-Tudo temos feito para que a Junta de Freguesia cumpra a sua missão.
Temos procurado a opinião dos fregueses para melhorar a nossa gestão. Temos dado a conhecer a nossa actividade de forma activa. Temo-nos envolvido em iniciativas que nos parecem positivas para toda a população de Alpiarça como, por exemplo, programas de apoio e incentivo ao comércio ou, nas áreas social e cultural, em iniciativas próprias ou em parcerias.
Temos procurado manter um relacionamento construtivo com todas as forças políticas de Alpiarça.
Os alpiarcenses, como já referimos, poderão estar certos que, apesar de todas a
dificuldades que as autarquias atravessam, com esta atitude, trabalhamos para ultrapassar
os obstáculos que vão surgindo, contribuindo para que todos os que vivem em Alpiarça
tenham melhor qualidade de vida.
É também este desafio que lançamos aos alpiarcenses: que não se resignem, que tomem em mãos a luta por um futuro melhor.
J.A.-Não querendo entrar na sua privacidade, e, sabendo nós, que a vida de autarca é bastante abrangente e nem sempre compreendida, onde fica a família no meio disto tudo?
P.J.-Naturalmente que a família, ainda para mais com dois filhos e mantendo a actividade profissional anterior, uma vez que desempenhamos as funções autárquicas a meio tempo, acaba por sofrer com a menor atenção que lhe damos.
No entanto e tendo em conta que tal já seria expectável quando resolvemos aceitar este desafio, com compreensão e o esforço de todos os elementos do agregado familiar e dos que nos estão mais próximos, a que se acrescenta a satisfação por estarmos a trabalhar em prol da sociedade alpiarcense, tudo isso é ultrapassado.
J.A.- Por último, gostaríamos que opinasse sobre o Jornal das Autarquias.
P.J.-É um bom veículo para dar a conhecer a actividade dos autarcas, das freguesias e dos concelhos do país, acabando também por ser meio de enriquecimento de conhecimentos.
Fonte:
«http://www.jornaldasautarquias.pt»
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